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Tradicional Feira da Agricultura Familiar e Economia Popular Solidária abre os festejos de São João.

Geral

Em sua décima oitava edição, a Feira reuniu cerca de 25 mil pessoas na praça Gentil Cardoso, em Crateús-CE.

Publicação: 08/06/2023



Foto: Monaiane Sá


Com foco no desenvolvimento dos agricultores e agricultoras, cultura e artesanato, a XVIII Feira da Agricultura Familiar e Economia Popular Solidária dos territórios Inhamuns e Crateús foi realizada com atividades e processos formativos, iniciados de 26 a 31 de maio.  A comercialização de  produtos, marcou os dias 01 e 02 de junho, na Praça Gentil Cardoso, em Crateús. 

Com o tema “Agricultura familiar: Comida na mesa, gente feliz”, a “Feira de Crateús” voltou com força total em 2023, após um longo período em que apenas atividades reduzidas e remotas eram possíveis, devido a Pandemia de Covid-19.

Em 2022, quando voltou às atividades presenciais, já foi possível matar um pouco a saudade do formato anterior, mas boa parte das oficinas, intercâmbios, palestras e outras ações ainda ocorreram de forma híbrida. Mostrando a força da articulação da agricultura familiar e da Economia Popular Solidária, a volta das atividades presenciais consolidou o status de maior evento da região, contando com 193 empreendimentos, mais de 350 feirantes, de 35 municípios, de cinco estados do Nordeste, dois do Norte e público estimado de mais de 25 mil pessoas.



Foto: Monaiane Sá


Uma grande ciranda

Durante os dois dias de comercialização da Feira, todas as barracas e atrações culturais contaram com a presença massiva do público, que veio de todo o Ceará e até de outros estados do país para conhecer, prestigiar e participar desse momento de culminância dos processos de produção agroecológica, construção da Economia de Francisco e Clara, a partir da Economia Popular Solidária e realização das feiras municipais, cada dia mais participativas e melhores, nos territórios Inhamuns e Crateús.

Para que este evento seja possível, participam da ciranda da construção, que vai desde assembleias municipais até a construção em si do evento em Crateús, 28 organizações governamentais e não governamentais, além de várias outras que colaboram financeiramente ou com trabalho voluntário. Estima-se que mais de 300 voluntárias e voluntários incidem na construção do evento, realizando as mais variadas tarefas, como a comunicação, a ornamentação, a infraestrutura, o acolhimento, entre outros serviços fundamentais.

O tratamento recebido pelas e pelos feirantes,  vai desde hospedagem, para quem vem de outras localidades, até alimentação e cadeira para todas as pessoas envolvidas na comercialização. Tudo isso só é possível graças ao envolvimento massivo e coletivo, de entidades e pessoas que acreditam na agricultura familiar e numa outra economia.



                                                                                                                                          Foto: Monaiane Sá


Comercialização recorde e geração de renda para a região

Segundo Adriano Leitão, Coordenador Executivo da Cáritas Diocesana de Crateús, "a edição deste ano superou as expectativas e as edições anteriores”. Segundo ele, em diálogos com os feirantes, ainda durante o evento, foi possível notar a satisfação de cada um com as vendas. No segundo dia de feira já se podia identificar barracas que já haviam vendido toda a sua produção.

“Eu precisei pedir para enviarem mais carne para fazer espetinhos, porque as que trouxeram para as duas noites acabaram quase todos na primeira”, comemora Keila Barbosa, militante do MST e membro da Cooperativa dos/as Assentados/as de Reforma Agrária do Sertão dos Inhamuns-Crateús, que gerencia uma agroindústria de produção de ovinos e caprinos. Segundo ela, a nova leva de carne acabou cedo também, assim como outras comidas que a organização ofertou na Cozinha do Sertão.

“Para nós tem uma grande importância, porque nós temos nossos quintais produtivos, o meio de comercialização é a feira. E nós sem a feira eu não sei como seria a nossa vida pra gente comercializar. Graças a Deus que aqui a gente vende diretamente pro consumidor, não precisa a gente passar por atravessador. A gente vende por um preço justo e o pessoal já entende ", afirma Dona Antonieta Araújo, de 55 anos, uma das mais antigas feirantes e participante da Feira de Crateús. Segundo ela, o evento gera expectativa e preparo durante o ano todo, logo após o término de cada edição já começam os preparativos para a próxima. 




                                                                                                                                  A Feirante Antonieta Araújo. Foto: Monaiane Sá


 Ouça aqui! Dona Antonieta de Araújo fala sobre sua vivência na Feira. 

 

Além de fazer a alegria dos feirantes, a Feira também gera um bom impacto em toda economia local. O setor hoteleiro de Crateús ficou com sua capacidade de ocupação totalmente preenchida, recebendo as caravanas que se hospedaram na cidade para participar da feira, valorizando a economia solidária e a agricultura familiar. Consequentemente, bares, restaurantes e vários serviços da cidade e da região tiveram aumento de demanda. “Só ontem (02/06, segundo dia de comercialização), eu devo ter rodado em Crateús uns 320 km, e só parei quando eu não tinha mais forças”, surpreendeu-se o mototaxista Roberio Sousa.

A organização do evento estima que o impacto da geração de renda no município, em dias de Feira, ultrapassa os R$500 mil.



Foto: Acervo/Cáritas Brasileira


Celebração e Formação

A Feira é um importante momento de celebração, de encontros e reencontros também para os feirantes, agricultores e artistas locais. Pâmela Pedrosa (28), participou pela primeira vez da Feira de Crateús e Territórios Inhamuns, vendendo mel de abelha, resultado de um processo de produção familiar. Ela foi uma das feirantes que participou das mais de 20 atividades que fazem parte da programação da Feira, como intercâmbios, fóruns, passeio ciclístico, reuniões de articulação política e oficinas, como as que Pâmela participou.


Para Pâmela, as oficinas foram maravilhosas. “A gente tem uma questão da formação, de como o produto chegar até a mesa, né? Com produto de qualidade, um produto bonito. Então, é de suma importância, que as pessoas participem e sigam os conselhos pra gente oferecer um produto de qualidade pras pessoas” afirma. Sobre a experiência da Feira, a jovem elogiou a acolhida, a estrutura e a diversidade de produtos. Ela fala sobre seu sentimento com relação ao evento. “Olha, eu sempre costumo dizer, eu não sei se eu tenho sangue de feira nas veias, mas feira pra mim, assim, é espetacular e a feira que está acontecendo aqui em Crateús, pra mim está sendo importantíssima. Momento muito bom, muito maravilhoso”, concluiu.



                                                                                           A Feirante Pâmela Pedrosa com as suas produções. Foto: Monaiane Sá


Ouça aqui! Pâmela Pedrosa fala um pouco sobre a sua experiência como Feirante.


A celebração da união entre campo e cidade também foi experienciada nas apresentações musicais que animaram os dois dias de comercialização. Subiram ao palco o cantor Manuelzinho, IF Crateús Jazz, O grupo Só DeBubuia do estado do Amazonas (AM) e encerrando a noite a já consagrada cantora Fatinha Veras colocou todo mundo para dançar, inaugurando com grande estilo a quadra junina.


Evento de porte nacional

A Feira já se consolidou no calendário de eventos do Brasil nos últimos cinco anos, se destacando como a maior feira do Nordeste brasileiro e considerada a segunda maior feira do país, ficando atrás apenas da Feira Internacional de Santa Maria no Rio Grande do Sul. 

Marcela Vieira, Assessora Nacional da Cáritas Brasileira, realça a importância das feiras enquanto espaços de fortalecimento das ações de formação, partilha de conhecimentos e troca de saberes, para além da comercialização dos produtos. “Esses espaços afirmam os processos de formação e autogestão dos grupos de agricultura popular e economia solidária da região. Para nós da Cáritas Brasileira, a realização da Feira de Agricultura Familiar e Economia Popular Solidária do Território Inhamuns e Crateús é um marco no nosso calendário de atividades nacionais, com a participação da diversidade da Economia Popular Solidária para a região” , diz Marcela. 

A Feira é lugar de encontros, afetos, debates, formação, e de protagonismo do nosso povo que constrói a agricultura familiar e economia popular solidária. A luta e a ciranda de construção de um novo mundo, um novo Semiárido, mais justo, inclusivo e sustentável continuam! 



Foto: Monaiane Sá


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