A Rede Cáritas Ceará participou do 10º Encontro Nacional da Articulação Semiárido (EnconASA) realizado entre 18 e 22 de novembro, nos municípios de Piranhas (AL) e Canindé de São Francisco (SE), às margens do Rio São Francisco. Dez agricultores e agricultoras rurais com experiências de referência no Ceará foram ao evento acompanhados pela Cáritas.
De volta após hiato de oito anos desde sua última edição, o maior evento da ASA retornou em grande estilo, reunindo 500 pessoas de 10 estados, em sua maioria, agricultores e agricultoras, para definir políticas coletivas, partilhar boas experiências e celebrar a resiliência do Semiárido brasileiro.
Junto à delegação cearense, as Cáritas Diocesanas de Crato, Iguatu, Sobral, Itapipoca e Tianguá e o Secretariado Regional do Ceará enviaram representantes e acompanharam agricultores e agricultoras familiares beneficiados/as do Programa Cisternas para o encontro.
Entre eles, estava o agricultor Erivaldo Queiroz, do município de Amontada, que participou pela primeira vez e se encantou com a experiência. “Tudo (o que vimos) foi aproveitado para o nosso conhecimento. Fizemos visitas, intercâmbios, oficinas. Foi muito proveitoso todo o conhecimento que adquirimos e também o que repassamos para os companheiros”, disse. Erivaldo é acompanhado pela Cáritas Diocesana de Itapipoca.
Durante a programação, aconteceram debates, lançamentos de programas, plenárias autogestionadas e intercâmbios de experiências em campo, onde o público pôde conhecer 20 experiências de referência em Alagoas e Sergipe. Também foram realizadas 10 oficinas com temáticas variadas da Educação Contextualizada à Mudanças Climáticas e Combate à Desertificação.
Agricultora rural de Sobral facilita oficina sobre Sistema de Bioágua Familiar no X EnconASA, em Piranhas-AL.
Beneficiária do Programa Cisternas, a agricultora familiar, guardiã de sementes crioulas e “reuseira” Salvelina Mesquita, do município de Sobral, foi uma das facilitadoras de oficina sobre Reúso de Águas Cinzas. Ela foi acompanhada da Cáritas Regional do Ceará.
Partindo da própria experiência, Salvelina apresentou a tecnologia social do Sistema de Bioágua Familiar, onde destina, por tubulações específicas, as águas cinzas (do banho, pias e tanques) para um tanque preparado serragem, húmus e minhocas Vermelhas da Califórnia, que funciona como um filtro biológico. Após a filtragem, a água segue para o tanque de reuso de 700 litros, podendo ser utilizada na irrigação de quintais produtivos (com exceção de hortas).
“Foi muito gratificante para mim falar sobre água de reuso. É algo que eu amo, porque eu fiz o meu próprio sistema de reuso. Somos quatro colegas reuseiras. Juntas, fizemos seis sistemas na nossa comunidade”, conta. “Dá muita alegria participar de um evento tão importante como esse. Tinha gente de cinco países diferentes e dez estados do Brasil. Eu fiquei muito feliz”.
O X EnconASA também marcou os agentes da Rede Cáritas Ceará. Para a coordenadora da Cáritas Diocesana de Iguatu, Mara Crislane de Oliveira, os encontros da Articulação Semiárido Brasileiro são sempre “espaços enriquecedores”. Ela destaca três momentos: a plenária de Contexto Político, a plenária Semiáridos da Terra e a Oficina de ATER.
Cáritas Diocesana de Iguatu: Maria de Jesus e Mara Crislane, da esquerda para a direita, no X EnconASA.
“Para a gente, é de grande importância a troca de saberes e de experiências entre agricultores, técnicos e instituições que fazem a assessoria técnica no semiárido. Esses também são momentos de se fortalecer enquanto instituição e enquanto comunidade semiárida”, Mara explica.
Acompanhada pela Cáritas de Iguatu, a guardiã de sementes Maria de Jesus Alves Vieira, agricultora do município de Saboeiro, resume sua experiência no EnconASA: “O semiárido nordestino é fonte de energia, de resistência e de beleza na vida do agricultor”.
Maria se diz realizada em participar de um evento nacional onde a maioria das pessoas presentes são agricultores e agricultoras iguais a ela. “Me sinto realizada, me sinto acolhida. O EnconASA pra mim é a gente levar de volta para casa o conhecimento, a alegria em rever os companheiros e repassar o que aprendemos para os demais que ficaram na comunidade”.
